quarta-feira, 13 de março de 2013

Kwanza e Cabo Ledo

Eram 13:30h quando saímos da sede da MEA na Maianga na passada sexta-feira. Era Dia da Mulher, feriado, e mesmo assim o trânsito estava infernal, mas como havia muito para por em dia, o caminho fez-se bem, em amena cavaqueira. Em Angola, entre portugueses, os problemas dos outros são os nossos problemas! Direcção Sul, objectivo Cabo Ledo; o Amândio tinha-me prometido uma surfada, e perante este convite, não podia sequer pensar em desistir. Depois de passarmos a confusão que é a saída de Luanda, aí fomos nós com o mar do lado direito. Primeira paragem, o Saco dos Flamingos. Trata-se de uma língua que entra pelo mar dentro e forma alguns baixios aproveitados pelos flamingos e outras aves, para procurarem comida. Encontram-se alguns exemplares bastante fotogénicos!
 
 


Com uma maçãzita no bucho, lá seguimos para a próxima paragem, o Miradouro da Lua. Cenário estratosférico provocado pela erosão nas arribas. Aqui conhecemos dois madeirenses, a trabalhar no mesmo meio, que conheciam aquele, que é amigo do outro e que por sua vez já trabalhou naquele local com aquela empresa. Depois de umas histórias de roubos, fugas e tiros à mistura, retomamos o caminho em busca do apetecido banho de mar.



A zona da foz do Kwanza apareceu ao longe como uma mancha verde com mastros brancos ao alto a sinalizar a famosa Ponte do Kwanza, cujo projecto foi desenvolvido pelo “nosso” Professor Edgar Cardoso e reabilitada recentemente com projecto do também “mui nosso” Professor Armando Rito. A aproximação faz-se com o aparato policial na entrada da área de portagem. São 210 kwanzas a passagem. À entrada da ponte, imponente com seus mastros e tirantes azuis e brancos, quebra molas eficazes impedem maiores velocidades, como provam as imensas marcas no pavimento. Na berma, jaz a carcaça de um carro militar, a fazer lembrar tempos idos desta Angola que agora conheço. O Kwanza corre ligeiro, com bastantes vestígios das chuvas, ladeado pelo verde da vegetação densa que o acompanha desde montante. Já do lado sul, no meio da planície coberta de capim, virámos à direita numa picada que nos leva a um ponto alto que nos permite admirar a aproximação do rio e o seu desaguar no mar. Espero vir a ser feliz aqui!






Tempo de comermos as nossas sandes roubadas aos israelitas… Chegamos à Praia do Surfista, em Cabo Ledo, às 16h, já com o sol em fase descendente. A praia encaixa-se entre duas encostas e o acesso faz-se através de uma picada em muito mau estado. As viaturas e as pessoas concentram-se junto à encosta do lado esquerdo. Supostamente no lado direito estende-se uma área de treino militar e não é permitido a permanência. A tenda militar que se vê ao longe, serve de aviso. Dois autocarros entre os diversos carros ligeiros, sugerem a presença de grupos, que imediatamente identificamos como locais, com os cânticos que acompanham as danças e os jogos junto ao mar. Alguns estrangeiros com as suas tendas espalham-se pela praia e outros mais junto ao mar, conversam ou aproveitam as últimas horas de sol. No mar, 2 ou 3 surfistas tentam lutar contra a preguiça do mar. A onda, uma esquerda que se forma no alinhamento da encosta sul, está cheia e com pouca força; a meio da “baia” enche e volta a formar. Tendo em conta os quase 20 anos que me separaram do tempo em que o surf era para mim prática corrente, não podia exigir mais. Depois disso, só umas surfadas desgarradas, tendo ocorrido a última há 6/7 anos. Pedi a prancha emprestada a dois italianos que jogavam cartas; era uma prancha de iniciação da Decathlon com 7’’ de comprimento, com muito pouca parafina, pesada, e com a qual, devido às suas características e à minha evidente falta de força, não conseguia fazer patinhos. Entrei confiante e remei com vontade para algumas ondas, mas só consegui cansar-me. A temperatura da água não diferia muito da temperatura exterior, entre os 25 e os 30ºC; pensando bem, não me lembro de alguma vez ter surfado em tronco nu, como desta vez. Demorei algum tempo a perceber qual o melhor posicionamento. Quando comecei a entrar nas ondas caí nas primeiras com falta de atrito nos pés, mas depois acertei e consegui finalmente apanhar uma onda e surfá-la até encher. A seguinte já foi muito melhor, conseguindo manobrar a prancha de forma a manter-me na onda até junto da praia. Estava ganho o dia!!! Depois ainda apanhei mais duas ou três ondas, mas aquela onda foi sem dúvida o apogeu. Sem força sequer para levantar o pescoço durante a remada, lá acabei por sair extenuado, mas completamente eufórico com a experiência. Para despedida, um cardume de golfinhos apareceu lá fora, como que a pedir que a próxima surfada seja o mais breve possível.





No regresso, com o trânsito para entrar em Luanda ainda em marcha lenta, resolvemos parar e jantar uma bela massada de cherne acompanhada de um branco fresquinho na Esplanada do Palanca, animado por um cantor multifacetado que cantava Paula Fernandes ou Roger Waters sem grande diferença.
No dia seguinte, apesar da enorme paciência para entrar em Luanda que o meu amigo AF teve de ter, conseguimos sair por volta das 10:30h, e seguimos em direcção à praia. Nesse dia a frequência era diferente, com muitas famílias de “expatriados” todos conhecidos, pais, mães e filhos surfistas, felizes com as condições que a mãe natureza lhes oferecia. A maré estava cheia e as ondas não convidavam a nova surfada, pelo que após um demorado período a demolhar decidimos ir petiscar qualquer coisa ao Kwanza Lodge, na foz do rio. Este lodge, composto por restaurante, esplanada com piscina, cais para pequenas embarcações e algumas habitações, é propriedade de sul-africanos apaixonados pela pesca desportiva; os quatro dourados que estavam a ser descarregados no cais assim o comprovaram. Não havia nada para comer, pelo que depois de uma cerveja e um mergulho na piscina, retomamos caminho em direcção a Luanda.
 





Sem o trânsito do dia anterior, conseguimos chegar facilmente à Ilha, onde degustamos umas belas conquilhas e chocos fritos, regados pelo omnipresente EA branco.
Belo fim-de-semana!







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