Eram
13:30h quando saímos da sede da MEA na Maianga na passada sexta-feira. Era Dia
da Mulher, feriado, e mesmo assim o trânsito estava infernal, mas como havia
muito para por em dia, o caminho fez-se bem, em amena cavaqueira. Em Angola,
entre portugueses, os problemas dos outros são os nossos problemas! Direcção
Sul, objectivo Cabo Ledo; o Amândio tinha-me prometido uma surfada, e perante
este convite, não podia sequer pensar em desistir. Depois de passarmos a confusão
que é a saída de Luanda, aí fomos nós com o mar do lado direito. Primeira
paragem, o Saco dos Flamingos. Trata-se de uma língua que entra pelo mar dentro
e forma alguns baixios aproveitados pelos flamingos e outras aves, para
procurarem comida. Encontram-se alguns exemplares bastante fotogénicos!
Com uma
maçãzita no bucho, lá seguimos para a próxima paragem, o Miradouro da Lua.
Cenário estratosférico provocado pela erosão nas arribas. Aqui conhecemos dois
madeirenses, a trabalhar no mesmo meio, que conheciam aquele, que é amigo do outro
e que por sua vez já trabalhou naquele local com aquela empresa. Depois de umas
histórias de roubos, fugas e tiros à mistura, retomamos o caminho em busca do
apetecido banho de mar.
A zona da
foz do Kwanza apareceu ao longe como uma mancha verde com mastros brancos ao
alto a sinalizar a famosa Ponte do Kwanza, cujo projecto foi desenvolvido pelo
“nosso” Professor Edgar Cardoso e reabilitada recentemente com projecto do
também “mui nosso” Professor Armando Rito. A aproximação faz-se com o aparato
policial na entrada da área de portagem. São 210 kwanzas a passagem. À entrada
da ponte, imponente com seus mastros e tirantes azuis e brancos, quebra molas
eficazes impedem maiores velocidades, como provam as imensas marcas no
pavimento. Na berma, jaz a carcaça de um carro militar, a fazer lembrar tempos
idos desta Angola que agora conheço. O Kwanza corre ligeiro, com bastantes
vestígios das chuvas, ladeado pelo verde da vegetação densa que o acompanha
desde montante. Já do lado sul, no meio da planície coberta de capim, virámos à
direita numa picada que nos leva a um ponto alto que nos permite admirar a
aproximação do rio e o seu desaguar no mar. Espero vir a ser feliz aqui!
Tempo de
comermos as nossas sandes roubadas aos israelitas… Chegamos à Praia do Surfista,
em Cabo Ledo, às 16h, já com o sol em fase descendente. A praia encaixa-se
entre duas encostas e o acesso faz-se através de uma picada em muito mau
estado. As viaturas e as pessoas concentram-se junto à encosta do lado
esquerdo. Supostamente no lado direito estende-se uma área de treino militar e
não é permitido a permanência. A tenda militar que se vê ao longe, serve de
aviso. Dois autocarros entre os diversos carros ligeiros, sugerem a presença de
grupos, que imediatamente identificamos como locais, com os cânticos que
acompanham as danças e os jogos junto ao mar. Alguns estrangeiros com as suas
tendas espalham-se pela praia e outros mais junto ao mar, conversam ou
aproveitam as últimas horas de sol. No mar, 2 ou 3 surfistas tentam lutar
contra a preguiça do mar. A onda, uma esquerda que se forma no alinhamento da
encosta sul, está cheia e com pouca força; a meio da “baia” enche e volta a
formar. Tendo em conta os quase 20 anos que me separaram do tempo em que o surf
era para mim prática corrente, não podia exigir mais. Depois disso, só umas
surfadas desgarradas, tendo ocorrido a última há 6/7 anos. Pedi a prancha
emprestada a dois italianos que jogavam cartas; era uma prancha de iniciação da
Decathlon com 7’’ de comprimento, com muito pouca parafina, pesada, e com a
qual, devido às suas características e à minha evidente falta de força, não
conseguia fazer patinhos. Entrei confiante e remei com vontade para algumas
ondas, mas só consegui cansar-me. A temperatura da água não diferia muito da
temperatura exterior, entre os 25 e os 30ºC; pensando bem, não me lembro de alguma vez ter
surfado em tronco nu, como desta vez. Demorei algum tempo a perceber qual o
melhor posicionamento. Quando comecei a entrar nas ondas caí nas primeiras com
falta de atrito nos pés, mas depois acertei e consegui finalmente apanhar uma
onda e surfá-la até encher. A seguinte já foi muito melhor, conseguindo
manobrar a prancha de forma a manter-me na onda até junto da praia. Estava
ganho o dia!!! Depois ainda apanhei mais duas ou três ondas, mas aquela onda
foi sem dúvida o apogeu. Sem força sequer para levantar o pescoço durante a
remada, lá acabei por sair extenuado, mas completamente eufórico com a
experiência. Para despedida, um cardume de golfinhos apareceu lá fora, como que
a pedir que a próxima surfada seja o mais breve possível.
No
regresso, com o trânsito para entrar em Luanda ainda em marcha lenta,
resolvemos parar e jantar uma bela massada de cherne acompanhada de um branco
fresquinho na Esplanada do Palanca, animado por um cantor multifacetado que
cantava Paula Fernandes ou Roger Waters sem grande diferença.
No dia seguinte,
apesar da enorme paciência para entrar em Luanda que o meu amigo AF teve de ter,
conseguimos sair por volta das 10:30h, e seguimos em direcção à praia. Nesse
dia a frequência era diferente, com muitas famílias de “expatriados” todos
conhecidos, pais, mães e filhos surfistas, felizes com as condições que a mãe
natureza lhes oferecia. A maré estava cheia e as ondas não convidavam a nova
surfada, pelo que após um demorado período a demolhar decidimos ir petiscar
qualquer coisa ao Kwanza Lodge, na foz do rio. Este lodge, composto por
restaurante, esplanada com piscina, cais para pequenas embarcações e algumas
habitações, é propriedade de sul-africanos apaixonados pela pesca desportiva;
os quatro dourados que estavam a ser descarregados no cais assim o comprovaram.
Não havia nada para comer, pelo que depois de uma cerveja e um mergulho na
piscina, retomamos caminho em direcção a Luanda.
Sem o
trânsito do dia anterior, conseguimos chegar facilmente à Ilha, onde degustamos
umas belas conquilhas e chocos fritos, regados pelo omnipresente EA branco.
Belo fim-de-semana!
Belo fim-de-semana!